O universo pictórico de Beatriz Milhazes paraleliza com a alegria trazida pelas festas populares brasileiras, sobretudo, com o carnaval carioca. A profusão de cores e movimentos circulares, nos passa a impressão de que a qualquer momento os motivos migrarão das telas, transformando a parede em um desfile de escola de samba na Marques de Sapucaí. Podemos ver a comissão de frente, os passistas, os carros alegóricos e o povo sambando, em uma transmutação marcada pela beleza e o fascínio. Há pulsação de vida, oração, mergulho, meditação: conexão com o divino. Há alguns anos a artista deu a seguinte declaração: "(...) Pela primeira vez, estou pensando em voz alta que, no trabalho com a cor, faço uma ligação entre vida e pintura. O carnaval - uma festa popular brasileira frenética - sempre me estimulou com seu visual, atmosfera, loucura, beleza etc. Os desfiles, com suas combinações de cores e conceitos, são muito malucos, mas por outro lado todas essas coisas estão muito longe da pintura, do meu ateliê, do meu cotidiano. Ao contrário de Hélio Oiticica, que também trouxe referências do carnaval para o seu trabalho, eu jamais, em nenhum momento, fiz parte do mundo do samba ou do carnaval. E nunca quis fazer parte. Sou uma carnavalesca conceitual. O mesmo acontece com a cultura psicodélica e a religião, ainda que eu acredite em Deus. Acho que uma caminhada na praia é a melhor maneira de conectar geometria séria e carnaval" (Beatriz Milhazes. Mares do sul. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 2002. p.92).