Artista-cineasta, os trabalhos de Cao frequentemente são estabelecidos pelo o que ele próprio nomeia como “cinema de cozinha”. Além do uso frequente do Super-8, o artista faz reflexões concretas a partir de técnicas de edição não lineares e das próprias qualidades granulares da película. Sua obra se faz construindo caminhos plurais e próprios com as artes visuais e com a fotografia. Cao cria um cinema auto-reflexivo, ora com estruturas próprias que o cinema pode desenvolver, dando visibilidade, sequência e mudando gradualmente os planos, ora utilizando-se de padrões de repetições que se alteram, trabalhando as questões próprias do médium. Por vezes há expresso uma dimensão de movimentos físicos, nos quais o movimento do tempo é outro. As experiências dos dias agregam-se em vídeo a partir de certa sensação de fugacidade latente onde há uma descolagem entre aquilo que se vê e o que ocorre espacialmente, temporalmente. Suas obras oferecem camadas de vários tempos e são documentos sinceros, vivos e vívidos que partem de uma forma de habitar particular para uma forma universal. Existe uma clara celebração das possibilidades de ritmo suscitadas pela temporalidade humana e pelas temporalidades do mundo. Seus trabalhos com fotografia também são meditações em torno de tais questões, mas, por vezes, partem de um lugar onde o que está à deriva do nosso olhar é enquadrado como uma nova forma, ressignificando profundamente diversas relações de um cotidiano outrora banal. Sua obra transpõe gêneros fílmicos e traça um caminho de atenção absoluta com aquilo que é fugaz ao cotidiano humano mas está impregnado de realidade. Seus trabalhos dialogam com o que é a experiência estética para Merleau-Ponty, ou seja, como uma experiência do mundo tal como é vivido e não concebido. Ponty diz: “O mundo está no entorno de mim, não diante de mim.”