A produção multifacetada de Carlos Zilio acompanhou os maiores desenvolvimentos e correntes da arte no Brasil. Todos os experimentalismos dos anos 60 e 70 estão expressos na sua produção. Zilio fez parte de uma geração que estava engajada em realizar obras de contestação a partir da década de 1960. Suas obras são limítrofes, radicais, combativas e realizam vigorosas reflexões e incisões sobre episódios de prisão, exílio, tortura, coerção e toda a realidade opressora que circundava o cenário social durante a ditadura empresarial-militar brasileira (1964-1985). Como o próprio artista debate no texto “O boom, pós-boom e dis-boom” publicado no jornal Opinião em 1976: “Está patente que as linguagens emergentes com os anos 70 não pretendem tanto — como as vanguardas do início do século — promover rupturas formais, e sim construir um ponto de vista diferente acerca da arte e sua inserção cultural e ideológica.”. O contexto do esgotamento do repertório formal, por sua vez, desdobrou-se nos novos meios de produção imagética: o vídeo, a fotografia, o postal, o xerox e o cinema germinaram como eixos experimentais e conceituais inequívocos. No Brasil, as fontes de alimentação e inovações dos experimentalismos advinham desde as contestações da juventude ianque e europeia — o militarismo, a cultura de massa, a televisão, a bomba nuclear, etc. Tudo isso está presente na obra de Carlos Zilio. O mergulho de sua produção na pintura de telas, sobretudo a partir do motivo do tamanduá, foi um processo de investigação plena acerca das vanguardas na qual o artista passou a combater, não mais a ditadura brasileira, mas sim a ditadura da própria pintura e as distâncias criadas entre ser e representar. Tornou-se necessário indagar e desconstruir o suporte, refletir sobre o lugar da tela, subvertendo hierarquias e trabalhando o que é eminentemente pictórico. Como menciona Yves-Alain Bois: "Ao definir o prazer da pintura como guardião de sua tumba, as telas de Zilio, silenciosamente, fornecem uma resposta bastante eficaz, no final do nosso século, à própria questão da necessidade da pintura."