Não se trata de um artista conformado apenas com o desenvolvimento de sua carreira artística e dos êxitos obtidos através do manejo inteligente das diversas linguagens com as quais trabalha. Jarbas Lopes vai além, ao trazer para o jogo entre artista e o mundo que o cerca, componentes relacionais entre corpos que se fusionam continuamente através de uma dialética afeta ao processo de transformação da realidade. Neste sentido, o artista implica-se por inteiro nas ações por ele desenvolvidas, buscando quebrar a barreira entre autor e espectador. Ao suprimir a linha divisória entre ação e absorção, configura uma constelação rizomática calcada na multiplicidade de protagonismos, alçando a experiência artística ao plano do cotidiano. A arte não existe para servir as cartografias engessadas do cubo branco.Em recente participação na quarta edição do Anozero 21-22, Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra, curada pela portuguesa Filipa Oliveira e da francesa Elfie Turpin, com realização de Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC),o artista, além das obras apresentadas no Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, chegou na cidade 30 dias antes para desenvolver uma série de atividades com a comunidade: estabeleceu diálogos com agentes culturais, artistas em formação, oficinas para professores. Desenvolveu programas experimentais com diversos públicos, estabelecendo processos poéticos de mediação. Para Gianne Maria Montedônio Chagas Telles, Doutora em História pelo Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro, “A obra de Jarbas revela um mundo cotidiano simples, percebido por um catador contemporâneo. Seu trabalho é orientado em direção ao valor do gesto arcaico e artesanal, como o de tecer e coser, uma ação simples, não espetacular, cotidiana. É uma maneira de recusar a competitividade e a eficácia de nossa sociedade, que provoca um estado de neurose. Assim, seu trabalho é composto por obras que estimulam o sensorial. Neste sentido, o corpo, para Jarbas, é o ponto central de sua criação. O artista salienta a importância do contato direto do corpo com a matéria no processo de criação, pois é impossível para Jarbas conceber a obra mentalmente de antemão. Logo, em toda sua obra, a interação com o corpo torna-se presente.